Da Ghama - Foto Saymon Rodrigo Passarela
Em videoclipe, Da Ghama regrava clássico da década de 90 em releitura amadurecida contra a intolerância religiosa e pela diversidade.
Em meio aos impactos da epidemia
de fake news que salta do campo virtual para a vida real e se propaga no terreno
fértil dos discursos de ódio e preconceitos, desvendar a verdade é como trilhar
rumo à justiça social. Inspirado nessa premissa, um dos clássicos do grupo de
reggae Cidade Negra – “Falar a Verdade”
– volta à cena após 30 anos, em releitura amadurecida e num tom de protesto
contra a intolerância religiosa e a favor da diversidade. O remake é tema do novo videoclipe do cantor e compositor Da Ghama,
ex-guitarrista da banda e autor da canção, em parceria com Rás
Bernardo, Lazão e Bino Farias. No audiovisual, que será
lançado no dia cinco de abril, Da Ghama interpreta Jesus Cristo Afro, que de uma
ilha paradisíaca exalta as religiões, relativizando a verdade ao abordar valores
atrelados à fé e crenças.
‘Falar a Verdade’ teve o seu
lançamento no CD “Lute para Viver” (1990), atravessou décadas, impactou gerações
e retorna ao mercado musical trazendo na sua letra críticas e abordagens sociais
profundas, mais atuais do que nunca. O diretor do videoclipe, Louiz Baptista, adota
uma linguagem universal e pautada em valores filosóficos e existenciais para
dialogar com as mais diversas religiões: budismo, cristianismo, catolicismo, xamanismo,
hinduísmo, judaísmo, islamismo, candomblé e umbanda. “A nossa intenção é de unir
os religiosos, independente de credos e opiniões. Exaltamos a igualdade, a
liberdade de escolha do ser humano. Pela manifestação artística, buscamos uma
forma marcante de protestar contra qualquer forma de preconceito e intolerância,
porque esse é também um dos papéis do artista, de conscientizar, de levantar a
bandeira da paz, do amor. Atos assim são fundamentais no atual cenário mundial",
afirma Da Ghama.
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Da Ghama - Foto Saymon Rodrigo Passarela |
A regravação de “Falar a Verdade” na voz de Da Ghama ganha uma versão totalmente repaginada. As cenas do videoclipe original, que tinham foco em modelos sensuais, usando biquínis e se divertindo com a banda em viagens por praias lindíssimas, deram lugar às abordagens mais coerentes ao cenário atual do país, assim como refletem as mudanças na percepção do autor do hit, ao avaliar os fatos mundiais e o grau de importância que eles tomam nos contextos sociais.
O roteiro intercala takes em um ‘paraíso’ – tendo como
cenário a Ilha do Guaraú, em Peruíbe (SP) - com performances artísticas de Da
Ghama. O artista contrasta entre expressões de austeridade e serenidade, como
forma de representar o seu protesto contra a intolerância religiosa e racial,
assim como os momentos de alegria e diversão, simbolizando a paz, o amor e a fé
em dias melhores para o planeta.
A solução encontrada por
Louiz Baptista para enfatizar a religiosidade, foi utilizar uma pequena TV
portátil de tubo, por onde a divindade afro interpretada pelo artista assiste
ao espetáculo musical. "A mensagem que queremos transmitir é que não
importa as nossas diferenças ou crenças, quando temos fé o universo sempre está
nos ouvindo e disposto a nos atender. A tolerância produz resultados
surpreendentes na vida. A verdade, é que precisamos nos conhecer melhor e,
assim, fazer uma reforma interna buscando um planeta mais justo e feliz”,
comenta Da Ghama. “Se quiser receber amor, dê amor. Seja você mesmo a mudança
que deseja ver na sua vida. Não há como fazer um bolo com sabor e formato
diferentes sem mudar os ingredientes da receita, a forma de misturá-los e a
forma onde a massa é assada. Tudo depende das nossas percepções”, acrescenta.
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Da Ghama - Foto Saymon Rodrigo Passarela |
Baptista teve como inspiração para roteirizar a obra, pesquisas que retratam as religiões e refletem a aceitação de seus praticantes, entre elas videoclipes com temáticas que dão destaque aos ritos africanos ou afro brasileiros, de artistas e conjuntos como Rosa Amarela; MC THA; 3030 e Baiana System. "Podemos constatar através de inúmeros comentários positivos uma grande aceitação respeito e admiração por parte do público pertencente a outras religiões", justifica o diretor.
E no clima solidário do
“estamos aí pro que der e vier”, “Falar a Verdade” ganha participações ilustres
no seu videoclipe. De personalidades que, assim como Da Ghama destaca na canção
– “luta para se manter” e “pede pra sobreviver”. Entre os líderes religiosos
estão a candomblecista Ialorixá Wanda de Omolú do Axé
Egi Omin, o Pastor Ivo Domingues, o Padre Nando Moraes, o Xamã Antônio Luiz, o
Umbandista Matheus Santana, a Budista Denise Diniz, o ativista Michel Mekler (Associação
Religiosa Israelita), o Mulçumano Mamour Bah e o Babalawo Ivanir dos Santos.
Estereótipo
do criador
O remake de “Falar a Verdade”
– que na verdade nunca saiu do playlist
das rádios brasileiras – reforça o estereótipo desse seu criador - Da Ghama. As
origens sociais do cantor vêm da Baixada Fluminense, mais especificamente do
município de Belford Roxo, presente em muitas das suas composições para ressaltar
a vida dura que ele teve na infância e na adolescência. Desde que formou o
grupo Lumiar, na década de 80 - que deu origem ao Cidade Negra - Da Ghama canta
as mazelas de um mundo impactado pelo preconceito e pela intolerância racial e
religiosa.
Depois que deixou o ‘Cidade’
para investir na carreira solo, Da Ghama se posicionou como sincero apreciador
da diversidade, com hits conscientes
no seu primeiro álbum “Violas e Canções”. Na produção seguinte, BaixÁfrikaBrasil
(2016), o cantor exalta a ideologia reggae e mergulha em questões sociais,
chamando atenção para áreas carentes e esquecidas pelo poder público, bem como
para questões ecológicas. O disco também homenageia a Baixada Fluminense e cantores,
compositores e bandas que vêm fazendo a história do reggae no Brasil, além da
década da Consciência Negra, reconhecida pela Organização das Nações Unidas
(ONU), que vai do período de 2014 a 2024.
Ficha
técnica de o videoclipe “Falar a Verdade”
Direção e roteiro: Louiz
Baptista
Edição de imagem: Louiz
Baptista e Da Ghama
Produção: Reggae Brasil
Produções
Fotografia e drone: Saymon Rodrigo
Passarela
Figurino:
Gleyce
Sampaio
Acessórios: Lucas Guerra GIMP
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