Baseado em fatos reais e nas discussões que a
pandemia levantou, atriz realiza sua primeira produção como roteirista.
Você
já parou para pensar quanta coisa vivemos e descobrimos em mais de um ano de
pandemia? E quantos acontecimentos não chegaram até nós, devido à enxurrada de
informações sobre a COVID-19? Mais do que isso, quantas pessoas se perderam e
ainda estão tentando se reencontrar em meio ao caos natural que a vida já
proporciona que foi exacerbado pelo momento que vivemos? Essas são as
discussões que a atriz Ursula Monteiro levanta, de forma forte e chocante, e,
ao mesmo tempo, cuidadosa no seu primeiro trabalho como roteirista, o curta
metragem “Val” que deve estrear nos festivais de cinema no próximo mês.
A
produção acompanha o presente e o passado de Valéria - vivida pela própria
Ursula - uma fotógrafa que mora no interior e suas incertezas. Dividida entre
um amor do passado que volta após anos de prisão, mesmo sendo inocente, e uma
mãe acusada de corrupção, que virou comentário na cidade, a personagem tenta se
encontrar, conhecer-se e tomar a decisão certa para o seu futuro: reatar este
romance, seguir a vida como ela está, ou? A terceira opção somente assistindo
ao curta.
Além
desta busca de autoconhecimento, “Val” também aborda temas importantes que
foram amplamente discutidos ou praticamente esquecidos durante a pandemia.
Mesmo sendo uma obra fictícia, a obra é baseada em fatos reais. Em março de
2020, no começo da pandemia, 1379 presos fugiram de quatro presídios no
interior de São Paulo, apenas metade dos fugitivos foram recapturados e esta
situação passou despercebida aos olhos da grande imprensa e, assim, da
população. Essa situação é um dos principais pontos, dentro do curta.
Outro
assunto importante relatado foi o aborto. Em agosto de 2020, vivemos uma grande
comoção quando uma menina de apenas 10 anos, que havia sido estuprada, teve
grandes dificuldades em realizar um aborto legal. Mas e as outras mulheres que
não ganham destaque na mídia? De acordo
com a organização mundial de saúde, cerca de 500 mil abortos clandestinos são
realizados por ano no Brasil e, a cada dois dias, uma mulher morre vítima de
aborto ilegal no país. Esse risco também é retratado na produção.
“Eu acho que a ideia do Val é levantar
discussões. Desde a fuga de presos que foi esquecida ao aborto, nós precisamos
falar sobre esses assuntos para, então, conseguir construir uma sociedade
melhor para todos nós”, explica Ursula. “O número de abortos clandestinos e mulheres morrendo não irá mudar
durante um bom tempo. Mas nós mulheres temos que estar confortáveis para se
expressar e discutir esse tipo de assunto, sem medo de preconceito ou
julgamento dos outros. Temos que contar nossas histórias. Afinal, como vamos
mudar uma sociedade se não há espaço para discussão”, questiona.
“Mas, é importante frisar, que apesar de
darem muita força à produção, essas discussões não são o tema principal da
produção. A forma como o curta se inicia e termina com o questionamento ‘uma
vez me perguntaram: o que eu faria se tivesse apenas mais um dia de vida’ é a
maior reflexão que quero que quem assista tenha. No início de 2020, além da
pandemia que mudou a vida de todos, perdi uma amiga querida, jovem, para um
câncer e isso também ligou uma chavinha em mim sobre onde eu queria estar, o
que eu queria viver se não tivesse outra chance. Essa é a maior lição do
projeto, se conhecer, olhar para dentro, tomar as rédeas da própria vida e
perceber que a felicidade está dentro da gente e não no outro”, completa a
artista.
Por:
Clilton Paz.
Fonte:
Gabriela Gimenes.
Foto:
Divulgação.

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